Editorial
Afundados em criminosa insanidade
Bendita seja a incompetência técnica. Não fosse por isso, a esta altura alguns milhares de lunáticos que insistem na tese de uma virada de mesa institucional no País, jogando ao chão a democracia e desenterrando o autoritarismo, possivelmente estariam celebrando mais uma turbulência política brasileira. E, diante de tamanho absurdo, sequer dariam importância ao fato de que tais movimentos, agora com intenções terroristas, dificilmente ocorreriam sem que pessoas ficassem gravemente feridas ou morressem.
E não se trata de exagero, como pode pensar alguém que venha a insistir em minimizar ações tresloucadas - e criminosas - como as planejadas por estes radicais. O depoimento do empresário detido pela Polícia Federal, no qual afirmou com todas as letras ter a intenção de explodir um caminhão de combustível próximo a um aeroporto como parte de plano ainda maior de atentados a diversos pontos com objetivo de instaurar o caos social e político, torna absolutamente nítido que a tolerância com o golpismo é um mal a ser enfrentado para ontem. Um autoritarismo que deve ser combatido pelo Estado brasileiro sem cair na armadilha de revidar na mesma moeda, com abusos de autoridade e ao arrepio da lei. Pelo contrário, o Brasil tem todas as ferramentas constitucionais para lidar com o problema. Basta, no entanto, que as aplique.
Não há mais justificativa plausível para que autoridades públicas, incluindo o atual ministro da Justiça que se despede do cargo no dia 31, continuem tratando ameaças à democracia e à transição de poder como se fossem meros boatos em grupos de WhatsApp. Frente aos verdadeiros arsenais encontrados com financiadores e frequentadores de acampamentos instalados à porta dos quartéis militares, quem levanta a voz para exigir ações duras contra criminosos em comunidades periféricas sequer aparece publicamente para defender com a mesma energia a investigação e punição exemplar. O recado nas entrelinhas tem sido claro no sentido de, se não facilitar planos e ações antidemocráticas, pelo menos não torná-las mais difíceis ainda.
O novo governo que tomará posse a partir de domingo certamente terá problemas, enfrentará dura oposição e não agradará a todos os brasileiros. Carrega, de largada, pesada bagagem de erros do passado. Mas, dentre as suas maiores missões - além do combate à pobreza - estará não cometer um novo e grave erro de manter o olhar complacente às agressões e, principalmente, ao terrorismo político. Chegamos a um patamar de insanidade criminosa que já se previa, mas que muitos insistiam em não levar a sério. O que mais falta acontecer para que se dê um basta?
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